sábado, 23 de fevereiro de 2008

A VERDADEIRA FELICIDADE


Espíritos Puros: Estado de felicidade plena
Fonte da imagem: http://conscienciadaalma.blogspot.com.br/2011/05/espiritos-puros_26.html

Fábio José Lourenço Bezerra 

O que é felicidade? podemos descrevê-la como sensação de muita satisfação, bem-estar, alegria intensa. Podemos deduzir também que, se somos filhos de Deus, e se Ele é onipotente, onisciente, infinitamente justo e bom, poderemos ser muito felizes, e para todo o sempre, bastando para isso querermos, todos nós, sem exceção. E com a mesma intensidade. 
              Então porque nós não somos todos felizes, durante todo o tempo, se, no final das contas, todos nós queremos ser felizes? Será que Deus não existe ou somos nós que não enxergamos que Ele nos deu todos os meios para alcançarmos a felicidade? 
O grande problema é que queremos a felicidade aqui e agora. No entanto, ao observarmos as pessoas ao redor do globo terrestre, chegaremos facilmente à conclusão de que a felicidade não é deste mundo. Não é aqui que a teremos em sua plenitude. 
Muitas pessoas acreditam na felicidade obtida com a beleza e o dinheiro. Afinal, se alguém é muito belo, será desejado por quem também é muito belo, e com o dinheiro pode-se comprar quase tudo, além do “status” que ele proporciona. Mas até quando durará essa felicidade? 
A beleza esvai-se ao longo do tempo, apesar de todos os recursos disponibilizados pela tecnologia, que podem retardar os efeitos da idade por um breve tempo, mas não detê -los. Nossa pele perde elasticidade, adquirindo rugas, marcas de expressão, fica flácida, nossa massa muscular tende a reduzir-se, e nossa saúde, como um todo, tende a debilitar-se. Isso sem falar na fragilidade da beleza, pois podemos perdê -la a qualquer momento, seja num acidente automobilístico, num assalto, ao contrair determinadas doenças, etc. Quantos excessos algumas pessoas cometem em nome da vaidade, como cirurgias plásticas radicais, gastos financeiros além das possibilidades, etc., arcando com suas amargas consequências? Nem todas as pessoas nasceram correspondendo aos padrões estéticos estabelecidos pela sociedade. Seria, então, Deus injusto por não ter criado todos os seus filhos igualmente bonitos? 
O dinheiro pode comprar quase tudo, principalmente em um país onde impera a corrupção, como o nosso. Contudo, ainda existem doenças às quais a ciência ainda não encontrou cura, e muitas delas são extremamente dolorosas. Nesse caso, o dinheiro encontra-se impossibilitado de impedir o sofrimento. Não podemos comprar a consciência das pessoas, fazê-las gostar de nós se isso não for natural, espontâneo. O que podemos comprar é fingimento, bajulação de quem estiver disposto a isso. Quantas pessoas passam uma vida inteira se dedicando a adquirir riquezas, sem hesitar em trair e prejudicar as pessoas, para obter o seu intento? Só enxergam esse objetivo e vivem para ele e por ele. Porém, na possibilidade de alcançarem a riqueza pretendida, por quanto tempo poderão desfrutar dela? Alguns anos? E quando morrerem, será que essa riqueza os servirá por toda a eternidade? Certamente que não. Isso quando, nesta vida mesmo, ao procurar a riqueza, essas pessoas não perdem a qualidade de vida, pois sequer têm tempo para usufruir daqueles prazeres que o dinheiro pode proporcionar, além de não ter convívio com sua família. Não é de admirar que muitos adolescentes e jovens passem a consumir drogas e praticar o vandalismo. Afinal, seus pais estão ocupados demais para acompanharem e atuarem na educação dos  filhos, além de não lhes dispensarem o carinho e a atenção de que necessitam.
A riqueza, como a beleza, é algo frágil, podendo desaparecer a qualquer instante. Pode-se entrar em falência, perder-se o emprego, etc. De que serviria toda a riqueza do mundo, se alguém não pudesse usufruir dos prazeres efêmeros proporcionados por ela? Por exemplo, alguém muito rico que, de repente, sofre um acidente e fica tetraplégico, precisando ficar por toda a vida em uma cama e dependente das pessoas para as coisas mais básicas da vida, como para fazer as necessidades fisiológicas, as refeições, a higiene pessoal, etc. Será que podemos trazer de volta à vida, por mais dinheiro que tenhamos, as pessoas amadas levadas pela morte? Seria Deus injusto por não ter criado todas nas pessoas nas mesmas condições financeiras? 
Com toda a certeza, a felicidade plena não é deste mundo. Podemos ter momentos felizes, entremeados de contrariedades e, algumas vezes, de sofrimento. 
Na pergunta Nº 920 de “O Livro dos Espíritos”, temos: “Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra?” 
Resposta: “Não, por isso que a vida lhes foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra.” 
Na pergunta Nº 921, temos: “Concebe-se que o homem será feliz na Terra, quando a humanidade estiver transformada. Mas, enquanto isso não se verifica, poderá conseguir uma felicidade relativa?” 
Resposta: “O homem é quase sempre o obreiro da sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira (Ver o texto Os Sofrimentos, neste blog).” 
Na pergunta Nº 922, temos: “A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens?” 
Resposta: “Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranqüila e a fé no futuro.” 
E, na pergunta Nº 933, temos: “Assim como, quase sempre, é o homem o causador de seus sofrimentos materiais, também o será de seus sofrimentos morais?” 
Resposta: “Mais ainda, porque os sofrimentos materiais algumas vezes independem da vontade; mas, o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões, numa palavra, são torturas da alma. “A inveja e o ciúme! Felizes os que desconhecem estes dois vermes roedores! Para aquele que a inveja e o ciúme atacam, não há calma, nem repouso possíveis. À sua frente, como fantasmas que lhe não dão tréguas e o perseguem até durante o sono, se levantam os objetos de sua cobiça, do seu ódio, do seu despeito. O invejoso e o ciumento vivem ardendo em contínua febre. Será essa uma situação desejável e não compreendeis que, com as suas paixões, o homem cria para si mesmo suplícios voluntários, tornando-se-lhe a Terra verdadeiro inferno?” 
Na pergunta Nº 967, lemos: “Em que consiste a felicidade dos bons Espíritos?” 
Resposta: “Em conhecer todas as coisas; em não sentirem ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que ocasionam a desgraça dos homens. O amor que os une lhes é fonte de suprema felicidade. Não experimentam as necessidades, nem os sofrimentos, nem as angústias da vida material. São felizes pelo bem que fazem. Contudo, a felicidade dos Espíritos é proporcional à elevação de cada um. Somente os puros Espíritos gozam, é exato, da felicidade suprema, mas nem todos os outros são infelizes. Entre os maus e os perfeitos há uma infinidade de graus em que os gozos são relativos ao estado moral. Os que já estão bastante adiantados compreendem a ventura dos que os precederam e aspiram a alcançá-la. Mas, esta aspiração lhes constitui uma causa de emulação, não de ciúme. Sabem que deles dependem consegui-la e para conseguirem trabalham, porém com a calma da consciência tranqüila e ditosos se consideram por não terem que sofrer o que sofrem os maus.” 
E na pergunta Nº 968, temos: “Citais, entre as condições da felicidade dos bons Espíritos, a ausência das necessidades materiais. Mas, a satisfação dessas necessidades não representa para o homem uma fonte de gozos?” 
Resposta: “Sim, gozo do animal. Quando não podem satisfazer a essas necessidades, passas por uma tortura.” 
Os homens estão apegados a este mundo, pensando e comportando-se como se esta fosse a verdadeira e única existência. Contudo, a vida material é transitória, uma escola, pois somos consciências eternas em fase de aprendizado, desenvolvendo a inteligência, adquirindo conhecimentos e maturidade moral ao longo de várias existências. 
Podemos possuir bens, sermos belos e gozarmos de plena saúde nessa vida, mas nas vidas seguintes nada disso termos. Isso quando não perdemos estas “vantagens” aqui mesmo nessa vida. 
Precisamos desenvolver a humildade, o desapego às coisas materiais, a compreensão do nosso semelhante, aprendendo a nos colocar no lugar das pessoas em todas as situações, sermos generosos e benevolentes para com os outros, para que possamos gozar de uma felicidade relativa, ainda neste mundo, e darmos um passo à frente no caminho da felicidade suprema. 
Se Deus nos criou a todos simples e ignorantes, com as mesmas potencialidades e condições para atingir a perfeição moral e intelectual, sendo nossas aparentes diferenças apenas uma questão de experiência maior ou menor, adquirida ao longo de sucessivas reencarnações, então porque sermos orgulhosos, se ninguém é melhor de que ninguém? Se a beleza física é algo frágil, passageiro, então porque sermos vaidosos? Nos apegarmos a algo que fatalmente um dia iremos perder? Se os bens materiais são transitórios, e nada, na verdade, nos pertence, a não ser aquilo que adquirimos para nossa consciência, porque condicionarmos nossa felicidade à posse de bens que o consumismo insiste que devemos ter? Se nos sentimos bem quando alguém nos ajuda, ou quando superamos uma dificuldade por nosso esforço, que tal fazer com que os outros sintam esse mesmo bem-estar, ao ajudá-los? Nos coloquemos, nesse momento, no lugar dessas pessoas que ajudamos e nós próprios nos sentiremos felizes. 
Cada cabeça é um mundo. Cada um de nós tem um somatório de experiências, de conhecimentos, criando em nós mesmos nossas verdades, maneiras diversas de enxergar o mundo. Então porque exigir das pessoas que elas se comportem da maneira que nós nos comportamos? Precisamos compreender o outro em sua totalidade, mergulhar em seu mundo. Assim, enxergando com os olhos do outro, não faremos julgamentos precipitados e preconceituosos acerca do mesmo, evitando nos ofendermos com atitudes do outro diferentes das que tomaríamos em determinada situação. Evitamos, dessa forma, desentendimentos, conflitos. 
Pense, por um momento, no alívio que se experimenta ao nos sentirmos livres de todas as angústias que nos são impostas pelo orgulho ferido, a vaidade frustrada, o egoísmo, que só gera a antipatia das pessoas, e o apego aos bens materiais, e em nos sentirmos bem ao fazer o bem aos outros. 
Pense, agora, na sensação de se possuir imensa inteligência e conhecimentos, a ponto de compreender, até, a essência de Deus, sendo os executores diretos e conscientes de Sua vontade.
Estas são as sensações imorredouras de Espíritos puros como Jesus Cristo, nosso guia e modelo. 
Esta sim é a verdadeira e plena FELICIDADE, a meta de nossa existência.  

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

1 KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1990]. 

2 _______________. O Livro dos Espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995]. 
3 _______________. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 3.ed. São Paulo: Petit, [1997].

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A REENCARNAÇÃO


Fábio José Lourenço Bezerra 

          Pense, por uns instantes, em todas as pessoas ao redor do mundo. Elas são bastante diferentes e vivem nas mais diversas condições, não é verdade?     
Algumas pessoas já nasceram ricas, tendo a oportunidade de usufruir de todas as coisas que o dinheiro pode comprar: boa formação intelectual, boa alimentação, os melhores médicos e hospitais à sua disposição, todos os tipos de bens móveis e imóveis, etc..Outros conseguiram tudo isso acima através de muito esforço e dedicação, honestamente ou através de meios ilícitos e prejudiciais ao seu próximo, tendo nascido em família de poucas posses. Em contrapartida, vemos pessoas que nasceram na mais extrema miséria, alimentando-se insuficientemente e exposta às doenças causadas pela falta de noções de higiene e saneamento básico, comprometendo assim a sua saúde e o seu desenvolvimento físico e mental. Isso sem falar na sua formação intelectual extremamente precária.
Uns nascem cheios de saúde, tendo adquirido muito poucas doenças ao longo da vida, enquanto que outros já nasceram doentes, às vezes com quadro de muito sofrimento durante toda a vida.
Uns vivem até os noventa anos ou mais, enquanto que outros morrem na mais tenra idade, com dez, cinco, dois anos e daí por diante.
Vemos pessoas de índole muito boa, capazes dos maiores sacrifícios pelo bem do seu próximo, a exemplo de Gandhi, Irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá, Chico Xavier e Francisco de Assis. Outros são extremamente cruéis, sanguinários, sádicos, a exemplo de Adolf Hitler, Mussolini e os assassinos em série. Temos pessoas de extrema inteligência, como no caso de Albert Einstein e Stephen Hawking e pessoas de inteligência e cultura medíocres, além daqueles com doenças mentais.
Se percorrermos a história humana, veremos que o homem já esteve em péssimas condições, devido à ausência dos recursos que o desenvolvimento das ciências e da tecnologia pôde proporcionar, como os medicamentos, as vacinas, os exames médicos, a anestesia, os meios de transporte e comunicação, etc. Isso sem falar na escravidão, nas constantes guerras entre os povos, e daí por diante.
Admitamos agora a existência de Deus, Inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas, possuidor dos atributos onipotência e soberana justiça e bondade. Como pode um Deus infinitamente justo e bom, que tudo sabe e tudo pode, permitir tamanha desigualdade de condições entre seus filhos, seja entre os do presente, seja entre os do presente e do passado? 
Se nós deixamos de existir após a morte, então Deus cria vários seres para viverem uma existência cheia de sofrimento, com a saúde comprometida, às vezes por toda a vida, a outros não é dado tempo para adquirir maturidade e outros possuem plenas condições de desfrutarem dos prazeres terrenos, para em um breve tempo jogá-los no nada. E as amizades, as pessoas que se amam, todas, sem exceção, deixariam de existir. De nada valeria tudo o que se aprende ao longo da vida.
            Portanto, se Ele possui os atributos supracitados, só podemos chegar à conclusão de que existe vida após a morte.
Contudo, se passamos por  uma única vida, e a partir dela vamos para o céu, ou para o purgatório (dependendo de rezas alheias para ganharmos o céu, e não de nosso arrependimento), ou sofrer eternamente no inferno, como pregam algumas religiões, encontraremos com isso um verdadeiro oceano de perguntas sem resposta:
- Porque existe o sofrimento? Se a humanidade sofre porque o primeiro homem pecou (referindo-se a Adão e a Doutrina do pecado original), então seria justo, por exemplo, que nosso avô, nosso pai e tios, e até nós, fôssemos presos porque nosso bisavô cometeu um assassinato antes de ter filhos? Onde estaria, então, a responsabilidade individual pelos próprios atos? ;
- Porque uns sofrem tanto (por exemplo, uma criança com câncer e os seus pais), sem nada terem feito nessa vida que o justifique, enquanto outros sofrem tão pouco? ;
- Porque uns nascem na miséria, sem ter o mínimo necessário para desenvolverem-se física e mentalmente (lembram-se dos miseráveis da Etiópia, por exemplo?), enquanto outros nascem na abundância? ;
- Porque uns nascem com grande habilidade em determinadas áreas do conhecimento, muitas vezes até são gênios, independentemente da educação que lhes foi dada e do meio em que viveram, enquanto outros nascem com muito pouca inteligência, até mesmo com deficiência mental? ;
- Porque uns possuem índole tão má, a ponto de torturar e assassinar seu semelhante com requintes de crueldade, enquanto outros são capazes de sacrificar seu tempo, seu repouso ou até mesmo de dar a vida para beneficiar outras pessoas, mesmo não sendo parentes, amigos ou sequer conhecidos? Não podemos dizer que se trata de simples escolhas, pois se pode facilmente verificar que os sentimentos (ou a ausência deles), motivadores destes comportamentos, em muitos casos brotam espontaneamente destas pessoas, sem nenhum esforço da parte delas ;
 - Porque uns chegam a viver apenas alguns anos, meses, ou até a morrer no ventre materno, sem ter podido fazer nem o bem, nem o mal ou aprender qualquer tipo de crença? Se vão para o céu, porque esse favor, sem que coisa alguma tenham feito para merecê-lo? Porque tipo de privilégios eles se vêem isentos das tribulações da vida? Se vão para o inferno, que fizeram para merecê-lo? Porque outros vivem até os 100 anos ou mais, sujeitos às mais diversas tribulações e tentações da vida?
- Se sofrer eternamente ou não após a morte depende da adoção de determinada crença, então porque várias pessoas, diariamente, morrem sem nada conhecer desta crença? E os milhões que morreram no passado sem dela nada conhecer? Caso sejam salvos porque não conhecem, porque o privilégio de não terem-na conhecido? Se não são salvos, porque então nasceram sob esta condição?
- Se Deus é bom, então porque ele não daria mais oportunidades para arrependimento, antes de jogar seu filho em um suplício eterno? Se alguém, por exemplo, viveu 20 anos e pecou mortalmente, morrendo e indo para o inferno, será que se pudesse ter vivido até os 100 anos, durante os 80 anos restantes não poderia ter se arrependido e, assim, ganho o céu? E enquanto arde no inferno, será que também aí não poderia se arrepender? Se sim, então porque Deus não lhe daria uma chance?

A reencarnação apresenta-se como a chave para a solução destes problemas.

Vejamos o que disse Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos”, Capítulo V, título – CONSIDERAÇÕES SOBRE A PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS:

“[...] Admitamos, ao contrário, uma série de progressivas existências anteriores para cada alma e tudo se explica. Ao nascerem, trazem os homens a intuição do que aprenderam antes: são mais ou menos adiantados, conforme o número de existências que contem, conforme já estejam mais ou menos afastados do ponto de partida. Dá-se aí exatamente o que se observa numa reunião de indivíduos de todas as idades, onde cada um terá desenvolvimento proporcionado ao número de anos que tenha vivido. As existências sucessivas serão, para a vida da alma, o que os anos são para o do corpo.”
“[...] Haverá alguma doutrina capaz de resolver esses problemas? Admitam-se as existências consecutivas e tudo se explicará conformemente à justiça de Deus. O que não se pôde fazer numa existência, faz-se em outra. Assim é que ninguém escapa à lei do progresso, que cada um será recompensado segundo o seu merecimento real e que ninguém fica excluído da felicidade suprema, a que todos podem aspirar, quaisquer que sejam os obstáculos com que topem no caminho.”

Na pergunta nº 166 de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, lemos o seguinte:

“Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?”

 Resposta: “sofrendo a prova de uma nova existência.”

a) “como realiza esta nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?”

Resposta: “depurando-se a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal”.

b) “a alma passa então por muitas existências corporais?”

Resposta: “sim, todos contamos com muitas existências. Os que dizem o contrário, pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse o desejo deles.”

            c) “parece resultar deste principio que a alma, depois de haver deixado um corpo, toma outro, ou, então, que reencarna em novo corpo. É assim que se deve entender?”

Resposta: “evidentemente”.

Os Espíritos reencarnam várias vezes, para que possam adquirir a experiência necessária ao desenvolvimento de sua inteligência e maturidade moral (o sentimento de amor ao seu próximo, enxergando-o como igual e irmão em Deus).
A reencarnação em corpos perecíveis e sensíveis também serve para que os Espíritos valorizem a sua imortalidade, através da sensação temporária e ilusória de mortalidade que experimentam, e essa sensação também os estimula a lutar pela sobrevivência, sua e daqueles que amam, desenvolvendo sua inteligência. Encontrar meios de evitar os sofrimentos também é um poderoso estímulo para isso.
De existência em existência, os Espíritos despertam suas potencialidades e caminham rumo à perfeição espiritual.

Na pergunta nº 167, lemos: “Qual o fim objetivado com a reencarnação?”

Resposta: “expiação, melhoramento progressivo da humanidade. Sem isto, onde a justiça?”

As diferenças que verificamos entre os homens resulta dos diferentes graus de evolução que possuem, proporcionais ao número de vidas por que passaram. Se são muito inteligentes e/ou bons, é que desenvolveram essas qualidades ao longo de várias existências, pelas reflexões e resoluções ocasionadas por elas, quando estavam no mundo espiritual. É aí que fazem o balanço do que aprenderam, em que erraram, e como podem melhorar, sempre assessorados pelos bons Espíritos. Estes lhes orientam acerca do tipo de experiências no mundo material que serão necessárias para seu melhoramento. Um Espírito com tendência a ser orgulhoso pode pedir uma vida humilhante, para que desenvolva a humildade, por exemplo. Outro, que tenha tendência ao egoísmo, pode vir na pobreza e ser auxiliado pelos que lhe cercam, para aprender o valor da generosidade, e assim por diante.
Durante as suas existências, pela sua inexperiência e/ou apego à aparente realidade da breve vida material, os Espíritos cometem, por vezes, atos prejudiciais ao seu próximo, como a traição, o roubo, os assassinatos, etc. Diante da necessidade de evoluir, e isso implica também em amar o seu semelhante, eles reencarnam em condições que os façam rever os seus atos, sentindo eles próprios os sofrimentos que fizeram os outros sentir. Dessa forma, eles adquirem a capacidade de se colocar no lugar daqueles que sofrem, como se fosse em si próprios. Esta é a origem daquilo que conhecemos como remorso, dor na consciência. Os sofrimentos da vida, aparentemente imerecidos (alguém que nasce na miséria, com deformações, deficiência mental, morre de forma brutal em um acidente etc.), possuem aí sua origem.
Da mesma forma que os pais conduzem os seus filhos pequenos para o que é bom para eles, mesmo contra sua vontade (por exemplo, dando-lhes um remédio amargo, mas que vai curá-los), os Espíritos pouco desenvolvidos são conduzidos pelos benfeitores espirituais, para experiências na matéria que vão acelerar seu desenvolvimento, mesmo a contragosto, até que possam escolher por si seu destino.
 Embora esqueçam os detalhes das suas vidas anteriores, temporariamente, durante a vida presente, os Espíritos encarnados conservam a intuição do que aprenderam, e isso os impele a formar sua personalidade atual, juntamente com tudo o que o ambiente proporciona durante a vida material, principalmente na infância. Daí a grande responsabilidade dos pais em darem uma boa educação a seus filhos, combatendo suas más tendências desde cedo (Ver o texto Por Que Esquecemos Nossas Vidas Passadas?, neste blog).
A capacidade de aprender essa ou aquela matéria da escola, as tendências para essa ou aquela profissão, gostos, vícios, fobias (como a claustrofobia, que é o medo de ficar em lugares fechados) que não possuem explicação nesta existência, podem ser atribuídos à  aquisições de vidas anteriores. Isso sem falar que o cérebro possui grande influência nesse processo, atuando como filtro, inibindo ou liberando essas potencialidades, dependendo do desenvolvimento ou não de suas partes constituintes, responsáveis por essa ou aquela função mental.
De tempos em tempos, encarnam na Terra espíritos de grande evolução espiritual, para inspirar os homens com seus exemplos, e algumas vezes transmitir sua sabedoria, auxiliando o progresso da humanidade. São exemplos: Jesus, Buda, Gandhi e São Francisco de Assis.

Na pergunta nº 171: “Em que se funda o dogma da reencarnação?”.

Resposta: “Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom Pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se? Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniqüidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão.”

A reencarnação é confirmada por uma quantidade enorme de evidências. No mundo inteiro, diversos pesquisadores têm estudado o fenômeno da reencarnação.
A pesquisa acontece em duas áreas distintas: casos de lembranças espontâneas de vidas anteriores, geralmente em crianças, e a outra através de um processo, atualmente muito utilizado com fins terapêuticos, que é a Técnica de regressão de memória a vidas passadas.
Na primeira área, destacamos o professor de psiquiatria Dr. Ian Stevenson e o atual continuador de sua pesquisa, o psiquiatra infantil Dr. Jim B. Tucker,  ambos da  Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos. Destacamos também o médico psiquiatra indiano Dr. H. N. Banerjee. No Brasil, uma pesquisa desta natureza também foi realizada pelo engenheiro Ernani Guimarães Andrade.
Na segunda área, tendo como precursor o coronel francês Albert de Rochas, que pesquisou sobre as vidas passadas de dezoito pessoas, entre 1903 e 1910, através da hipnose, destacamos a renomada psicóloga americana Dra. Helen Wambach e inúmeros psicoterapeutas, dos quais temos como exemplos: Morris NethertonEdith Fiore e Brian Weiss nos Estados Unidos , Roger Woolger na Inglaterra, Patrick Druot na França,Thorwald Dethlefsen na Alemanha e Hans Tendam na Holanda, além de outros.
A partir do conjunto de todas essas pesquisas, chega-se a uma única conclusão possível: a reencarnação não é apenas uma teoria, mas um fato amplamente demonstrado (Ver o texto Fortes Evidências da Reencarnação, neste blog).


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1 ANDRADE, Hernani Guimarães. Parapsicologia: uma visão panorâmica. São Paulo:


2 DOYLE, Arthur Conan (Sir). História do espiritismo. São Paulo: Pensamento, [1999].

3. KARDEC, Allan (pseudônimo).O livro dos espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].
4._______________. O evangelho segundo o Espiritismo. 3.ed. São Paulo: Petit, [1997].

5. ROCHAS D’AIGLUN, Eugene –Auguste Albert de. As vidas sucessivas. 1. ed. São Paulo: Lachâtre, [2002].
6. WEISS, Brian L. Muitas vidas, muitos mestres. 37. ed. Rio de Janeiro: Sextante, [1998].

7. WAMBACH, Helen. Recordando vidas passadas.São Paulo: Pensamento, [1995].


8 TENDAM,  Hans.  Panorama sobre a reencarnação Vol 1, 1996;

NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz de. Reencarnação: processo educativo. Salvador:  Fundação lar harmonia, 2003.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O INÍCIO DO ESPIRITISMO - PARTE 2: A CODIFICAÇÃO


Os livros básicos do Espiritismo


Fábio José Lourenço Bezerra


Na segunda metade do século XIX a ciência e a tecnologia avançavam, oferecendo grandes contribuições à humanidade. O telégrafo possibilitou a comunicação quase instantânea entre longas distâncias, e o trem a vapor tornou possíveis as viagens de muitos para os mais distantes lugares, em um tempo muito menor. Estas foram apenas duas entre muitas outras grandes contribuições.
Assim, o estudo da natureza passava a ter extrema importância, e muito se questionava sobre os ensinamentos da religião que, exigindo uma fé cega, colocava muitos obstáculos a este estudo, limitando o pensamento humano. Cada vez mais pessoas desejavam compreender para crer.

Muitas pessoas se interrogavam: Como um Deus infinitamente bom, justo e todo-poderoso permitia tanto sofrimento e desigualdade entre os seus filhos?

Diante de tudo isso, o materialismo científico, que afirma que tudo surgiu por acaso, não havendo necessidade de um Deus para a criação do nosso Universo, avançava cada vez mais. Para o materialismo, as pessoas não passariam de pedaços de carne e osso inteligentes, sensíveis e com data de validade. As religiões nada mais seriam do que criações da imaginação humana.
Com o materialismo, vinha o pessimismo. Afinal, sem um propósito, um plano superior para a vida, nosso destino dependeria do acaso. Sofrer ou se dar bem na vida, muitas vezes, nada mais seria do que uma questão de sorte.
O que restaria das pessoas após a morte, se não possuem uma alma imortal? O suicídio, neste caso, seria uma fuga natural para aqueles que passam por grandes sofrimentos na vida. Para que viver sofrendo se, com a morte, tudo cessa?
Nossos parentes e amigos mais queridos simplesmente deixariam de existir depois de seus corpos terem descido para a sepultura.
Para que procurar modificar-se, combater em si os vícios morais do egoísmo, do orgulho, da vaidade e do apego às coisas materiais, querer tornar-se uma pessoa boa e equilibrada, se a vida é curta? Tudo acabando com a morte, só nos resta desfrutar da vida intensamente, sem se importar com quem quer que seja, pois a vida pode acabar a qualquer momento. Só alguém que já é naturalmente bom poderia continuar sendo, se fosse materialista. Mas mesmo assim questionaria se sua bondade não é uma perda de tempo, diante de tantas pessoas que só se importam consigo mesmas e estão desfrutando intensamente dos prazeres que a vida pode proporcionar.
Imaginemos um mundo onde a única crença fosse o materialismo. Seria uma selva, onde os fracos seriam devorados pelos fortes.

Foi nessa época que, como resposta dos céus, a partir dos Estados Unidos, (depois que aconteceram os fenômenos de Hydesville – Ver o texto O Início do Espiritismo Parte 1– Hydesville, neste blog), passando pela França, Europa e o resto do mundo, espalhou-se como uma epidemia o fenômeno das “mesas girantes”. Ele ocorria quando várias pessoas sentavam-se ao redor de uma mesa, todos pondo as mãos em cima dela, formando entre si uma corrente. Após um tempo, a mesa girava, flutuava e movia-se no ar sem apoio visível nenhum, e com batidas dos seus pés no chão, respondia às perguntas das pessoas presentes através de códigos (por exemplo, uma pancada significava a letra “A”; duas pancadas a letra “B”, até formar-se uma palavra, e em seguida frases inteiras).

                                                            Fonte da imagem: http://dalhemongo.com/coluna-das-mesas-girantes-a-codificacao

Durante muito tempo, as mesas girantes foram o principal divertimento da sociedade européia da época, notadamente a parisiense. Aconteciam tanto nos salões de festa quanto nos lares, quando os familiares e amigos reuniam-se para interrogar as mesas sobre os mais diversos assuntos que, em sua maioria, eram banais: se ia arranjar um marido, conseguir um emprego ou enriquecer, por exemplo. 
Além dos curiosos, os fenômenos também atraíram a atenção de homens de ciência da época. Alguns, ante os fatos, simplesmente os negavam, declarando que o fenômeno não passava de fraude pura e simples, sem antes investigar melhor; outros, mais criteriosos, tomaram todas as precauções para afastar totalmente a possibilidade de fraude. Afastada esta possibilidade, convenceram-se da realidade dos fatos, procurando explicá-los através das mais diversas hipóteses: uns defendiam a atuação dos Espíritos; outros, através da atuação do subconsciente das pessoas presentes nas sessões.

O fenômeno foi registrado em vários livros e muitos jornais da época. 

Com o tempo, as comunicações evoluíram, sob a orientação das próprias inteligências que guiavam as mesas, para um lápis amarrado em uma cesta, segurada por duas pessoas, a escrever em uma folha de papel. Por fim, elas sugeriram  colocar-se um lápis diretamente na mão do médium (pessoa dotada da  sensibilidade  para  comunicar-se com  os Espíritos, em alguns casos capaz de ceder energia para que eles movam objetos, produzam pancadas, etc.), da qual tomariam o controle temporariamente para escrever. Nascia, assim, a psicografia.

Um dos investigadores acima citados, residente em Lyon, França, teve a sua atenção chamada para o fenômeno das “mesas girantes” através de um amigo, que o chamou para assistir a uma sessão. Era Hippolyte León Denizard Rivail, que mais tarde passaria a utilizar o pseudônimo Allan Kardec. Um homem de notável saber e inteligência,  principal discípulo do grande professor Pestalozzi. Rivail era bastante conhecido e respeitado em sua época. Dedicou-se à instrução e à educação durante aproximadamente trinta anos, tendo sido, inclusive, diretor de escola e professor. Escreveu vários livros didáticos sobre diversos assuntos, entre os quais Aritmética, Gramática francesa, Química, Física, Astronomia e Anatomia Comparada. Falava e escrevia em várias línguas, conhecendo bem o alemão, o inglês, o holandês, o latim, o grego e o gaulês.

Quando seu amigo de muito tempo, o Sr. Fortier, o informou que as mesas giravam, flutuavam e percorriam o ar sem nenhum apoio, Allan Kardec logo pensou na hipótese de o fenômeno ter uma causa puramente física. A eletricidade ou o magnetismo, pensou ele, poderiam estar ali atuando de maneira desconhecida. Porém, quando novamente se encontrou como Sr. Fortier, este lhe informou:

“Temos uma coisa muito mais extraordinária; não só se consegue que uma mesa se mova, magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde.”

De imediato, a reação de Kardec foi a seguinte declaração: 

“Eu acreditarei quando ver e quando me tiverem provado que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir, e que pode se tornar sonâmbula. Até lá, permita-me que não veja nisso senão uma fábula para provocar o sono”.

Procurando verificar os fenômenos por si mesmo, ele foi assistir a primeira das inúmeras sessões mediúnicas em que esteve presente.

Inicialmente, procurou examinar bem o fenômeno, para ver se descobria alguma fraude. Comprovou que era autêntico.
Vendo que realmente havia uma causa inteligente por trás do fenômeno, pensou na hipótese dele ser dirigido pela mente do médium e das pessoas presentes, só que de forma inconsciente. Depois de muitas observações, durante as várias sessões que participou, viu que esta hipótese não explicava os fatos.

Após assistir a suas primeiras sessões, Kardec teve uma idéia: testar as inteligências invisíveis com perguntas de alto teor cientifico e filosófico. Algumas simples e diretas; outras, com o real propósito de verificar se as respostas se contradiziam e se poderiam ser induzidas pela pessoa que pergunta. Para sua surpresa, muitas das inteligências não se deixavam influenciar, dando respostas inteligentes, ricas de lógica, conhecimentos e moralidade. Observou que uma enorme parte delas não se contradizia, e estavam muito acima da capacidade e conhecimentos dos médiuns e dos presentes nas sessões.
Ele fez estas perguntas para Espíritos que se comunicavam através de vários médiuns (mais de dez médiuns, que não se conheciam e de localidades distantes entre si). Procurava, dessa forma, se certificar de que as comunicações realmente não eram produto da mente dos médiuns e dos presentes nas sessões. Ele selecionou então as perguntas cujas respostas não feriam a lógica e eram coerentes entre si. Porém, Kardec aprendeu tanto com o menor, quanto com o maior dos Espíritos que se comunicavam. Ele escreveu na introdução de “O Livro dos Espíritos”:

“[...] Em alguns casos, as respostas revelam tal cunho de sabedoria, de profundeza e de oportunidade, pensamentos tão elevados e tão sublimes, que não podem emanar senão de uma Inteligência superior, impregnada da mais pura moralidade. De outras vezes são tão levianas, tão frívolas, tão triviais mesmo, que a razão se recusa a acreditar que possam proceder da mesma fonte. Tal diversidade de linguagem não se pode explicar senão pela diversidade das Inteligências que se manifestam.”

Imagine, por um momento, que você quer saber tudo sobre determinado país e seus habitantes. Desconfiado, você não acha suficiente pesquisar na internet, quer o testemunho de pessoas que você conhece e que já estiveram lá. Porém, uma ou duas pessoas lhe contando é muito pouco, pois você quer conhecer o país através do ponto de vista de várias pessoas conhecidas e fazer a comparação. Aí sim, você vai estar seguro.
Eis que, por um golpe de sorte, diversos parentes, amigos e conhecidos já estiveram naquele país, e eles são das mais diversas classes sociais, idades e níveis de instrução. Isto é muito bom, afinal, você quer conhecer o país como um todo e não apenas a parte mais humilde, ou a mais rica. Também quer saber sobre os pontos turísticos, o custo de vida, os programas culturais, clima, costumes, etc. Para sua felicidade, as descrições que todas essas pessoas lhe deram formam um todo coerente, fazendo você visualizar mentalmente o país de forma geral, e também em vários detalhes.
Os relatos coincidem em vários pontos, e muitas das pessoas que você entrevistou são de sua inteira confiança. E veja que você fez essas perguntas por vários anos seguidos!!! Será que você ainda tem alguma dúvida de que sabe muita coisa verdadeira sobre esse país, apesar de nunca ter posto os pés lá?
Admitamos agora a hipótese de que as pessoas possam, após o seu falecimento, comunicar-se conosco e contar tudo o que presenciaram, tudo o que sentiram do outro lado da vida. Admitamos também que essas comunicações só sejam possíveis através da sensibilidade especial de determinadas pessoas (os médiuns), que nos transmitiriam a comunicação recebida através de várias formas, como, por exemplo, a psicografia (método através do qual os Espíritos, pelas mãos dos médiuns, escrevem textos). Como poderíamos saber que aquelas comunicações são realmente de pessoas falecidas e não são produto da mente do médium, ainda que inconscientemente?
Lembremos do que foi dito no início deste texto, quando perguntamos a várias pessoas sobre determinado país que elas conheceram. Poderíamos imaginar agora, no lugar dessas pessoas, vários médiuns, que não se conhecem, de localidades distantes entre si, recebendo comunicações de vários Espíritos cada um, que revelariam as suas impressões acerca do mundo espiritual. Se, de fato, as centenas de comunicações obtidas coincidirem em vários pontos, aliás, na grande maioria deles, e se o teor dessas comunicações estiver muito acima do nível cultural dos médiuns, além de formarem um todo lógico, coerente, teríamos, evidentemente, um retrato muito confiável do que seria a vida pós-morte. As diferenças poderiam, neste caso, ser facilmente atribuídas aos pontos de vista característicos de cada Espírito comunicante, da mesma forma que, na vida material, as pessoas emitem pontos de vista e impressões distintas acerca de um mesmo assunto.

Após suas investigações pessoais, Kardec observou que o conteúdo das comunicações dos Espíritos ia sendo confirmado ao longo do tempo, através de diferentes médiuns de centros espíritas sérios, localizados em várias partes do mundo (cerca de mil centros).

O resultado de suas experiências demonstrava que uma enorme parte dos casos se devia a uma inteligência independente do médium e das pessoas presentes, contrária muitas vezes às convicções religiosas e filosóficas destes, com vontade e personalidade própria. Numerosas vezes dotadas de grande conhecimento, inteligência e moralidade. Isto além do fato de as próprias inteligências insistentemente afirmarem que eram Espíritos, tendo um dia possuído um corpo, nada mais sendo que as almas de pessoas que um dia viveram na Terra. Afirmação esta, diga-se de passagem, feita antes mesmo de alguém pensar nesta hipótese, surgida mesmo em meios totalmente avessos a esta idéia, como ocorreu com a família Fox, que eram protestantes, e muitos outros casos registrados no inicio dos fenômenos espíritas.

As revelações dadas pelos Espíritos possuíam um caráter revolucionário, e ao mesmo tempo profundamente racional. Eles apresentaram um conceito de Deus, da vida e do universo totalmente diversos do que se tinha até então, e a justiça divina nunca se apresentara tão rica em lógica e perfeição. Deus deixava de ser um Pai descontrolado e vingativo, que condenava seus filhos desencaminhados a uma punição eterna, para lhes dar infinitas chances de arrependimento, proporcionando-lhes meios de se reeducarem e conquistarem a perfeição moral e intelectual. Para esse Deus, nenhum de seus filhos seria excluído, por mais tempo que exigisse, da benção de evoluir moral e intelectualmente, estabelecendo a comunhão plena com Ele.
Os Espíritos traziam para a humanidade a possibilidade de crer e ao mesmo tempo compreender.
   
A força que todas estas circunstâncias tinham fizeram Kardec concluir que as inteligências comunicantes eram exatamente o que alegavam ser: pessoas que sobreviveram à morte do corpo físico, conservando intacta a sua alma. Ele constatou imediatamente a grande importância desta revelação, tomando a decisão de publicar as suas conclusões, mas principalmente as revelações dadas pelos Espíritos.

Os Espíritos Superiores informaram a Kardec que ele tinha uma missão a cumprir: divulgar a Doutrina Espírita pelo mundo. Eles prometeram dar todo o apoio durante este trabalho, supervisionando toda a Codificação, quer dizer, a reunião e organização de todos os ensinamentos dados pelos Espíritos Superiores na forma de uma Doutrina.

O primeiro fruto deste trabalho foi "O Livro dos Espíritos", publicado em 1857 e depois bastante ampliado em sua segunda edição de 1860. Trata-se da principal obra do Espiritismo. Com uma excelente introdução filosófica, ele é dividido em 4 (quatro) partes, e cada uma delas foi aprofundada depois, nas obras a seguir :

Das causas primárias - aprofundada em A Gênese, que trata do aspecto científico do Espiritismo;

Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos - aprofundada em O Livro dos Médiuns, que trata da prática espírita, a mediunidade. Verdadeiro manual de instruções para os médiuns e os demais participantes das reuniões mediúnicas;

Das leis morais - aprofundada em O Evangelho Segundo o Espiritismo, que trata das questões morais e da mensagem de Jesus à luz da Doutrina Espírita;

Das esperanças e consolações – aprofundada em O Céu e o Inferno, que trata do estudo sobre a Justiça Divina, mostrando que o céu e o inferno são construções mentais de cada um.

As obras acima citadas formam a base da Doutrina Espírita. São conhecidas no meio espírita como o Pentateuco Kardequiano. Também foram publicadas obras complementares, como por exemplo: "O que é o Espiritismo" – onde Kardec rebate as principais objeções formuladas contra a Doutrina Espírita, contendo ainda a biografia de Allan Kardec; "Obras Póstumas" – concebido após sua morte e compilado por sua esposa e outros companheiros de ideal espírita, reunindo anotações não publicadas de Kardec; a Revista Espírita, periódico que servia como “laboratório” para o codificador, onde ele expunha suas hipóteses, idéias, publicava novas comunicações mediúnicas e notícias acerca do movimento espírita.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

KARDEC, AllanO Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB;


2 ______________. Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, [2003];


3. ______________.O Livro dos Médiuns: ou guia dos médiuns e evocadores: espiritismo experimental Rio de Janeiro: FEB, [1997];

4 ______________. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 3.ed.São Paulo: Petit, [1997];


5 _______________. O Que é o Espiritismo: o espiritismo em sua mais simples expressão. 43. ed. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, [2000];

6 TORCHI, Christiano. Espiritismo passo a passo com Kardec.  Rio de Janeiro: FEB;


7 ANDRADE, Hernani Guimarães. Parapsicologia: uma visão panorâmica. São Paulo: FE, 2002;



8 WANTUIL, Zêus.  As mesas girantes e o Espiritismo. 1 ed.Rio de Janeiro: FEB, [1957];


9 WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: Pesquisa bibliográfica e ensaios de interpretação. Vol II.1 ed.Rio de Janeiro.FEB, [1980].