quarta-feira, 27 de junho de 2012

A BÍBLIA CONDENA O ESPIRITISMO? PARTE 2 – A BÍBLIA SOB A ÓTICA ESPÍRITA

Jesus se comunica com os Espíritos de Moisés e Elias no Monte Tabor

Fábio José Lourenço Bezerra

     Dando continuidade ao nosso texto anterior, A Bíblia Condena o Espiritismo?”, neste blog, o autor Severino Celestino da Silva, em sua obra ” Analisando as traduções bíblicas”, nos diz que “muitas essências e valores foram perdidos com a tradução da Toráh” (os cinco livros atribuídos a Moisés). Continua ele:
 “Modernamente nos servimos das letras do alfabeto para designar os sons componentes das palavras da nossa língua. Na sua fase antiga, ideográfica, o alfabeto era composto de sinais que sugeriam idéias em vez de sons. No decorrer dos tempos, porém, apagou-se por completo esse aspecto primitivo dos sinais gráficos para remanescer, unicamente, o valor fonético e ser adotado por todas as nações do mundo em nossos dias.”
Nesse particular, “o alfabeto hebraico constitui uma verdadeira exceção”, pois continuou sendo objeto de ramificada interpretação ideológica, a qual, no fundo, sublima e desenvolve, em profundidade, o seu primitivo princípio ideográfico.”
Conforme Severino Celestino, os tradutores Eusébio (260-340), Ambrósio (333-397) e Jerônimo (340-420), nas suas obras, ora referem-se ao significado da figura, ora à semântica de seu nome, e afirma:
“Desta conduta, derivaram-se muitos conceitos novos que, na verdade, acabaram por não traduzir o verdadeiro sentido do texto, além de alterarem o sentido original ou mesmo deixarem de atribuir valores que não poderiam ficar de fora.
O Zohar afirma que, em cada uma das palavras da Toráh, estão contidas verdades supremas e segredos sublimes. Assim, os textos da Toráh não são mais do que suas vestes exteriores. O vinho deve ser colocado num cântaro para se conservar, assim também a Toráh deve ser envolvida numa roupagem exterior. Essa roupagem é feita de fábulas e narrativas, mas nós devemos penetrar através delas.”  
Ele cita o que escreveu Rebe de Lubavitch, em sua obra “Discursos Chassídicos”:
“A Toráh tem sua própria terminologia complexa e um único conjunto de regras e linhas mestras pelas quais pode-se interpretá-la. Uma tradução direta pode facilmente levar a uma distorção, mau entendimento, e até a negação da unidade de Deus. Sem emendas nas traduções nos possíveis maus direcionamentos de palavras e frases, deploráveis danos poderiam resultar.”
O Espírito Emmanuel, pela psicografia do médium Francisco Cândido Xavier, em sua obra “A Caminho da Luz”, escreveu no ano de 1938:
“Estudando-se a trajetória do povo israelita, verifica-se que o Antigo Testamento é um repositório de conhecimentos secretos, dos iniciados do povo judeu, e que somente os grandes mestres da raça poderiam interpretá-lo fielmente, nas épocas mais remotas.”
A resposta do Espírito à indagação de Kardec de Nº 1010 de “O Livro dos Espíritos”, escrita em meados do século XIX, também é bastante esclarecedora:
“Logo se reconhecerá que o Espiritismo ressalta a cada passo do texto das Escrituras Sagradas (grifo nosso). Os Espíritos não vêm, pois, destruir a religião, como alguns o pretendem mas, ao contrário, vêm confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis. Mas como é chegado o tempo de não mais empregar a linguagem figurada, eles se exprimem sem alegoria e dão às coisas um sentido claro e preciso que não possa estar sujeito a nenhuma interpretação falsa. Eis porque, dentro de algum tempo, tereis mais pessoas sinceramente religiosas e crentes que as que não tendes hoje.”
Vejamos o que disse Allan Kardec, no livro “A Gênese”, Capítulo I, item 29:
“Mas, quem toma a liberdade de interpretar as Escrituras sagradas? Quem possui as necessárias luzes, senão os teólogos? Quem o ousa? Primeiro a ciência, que a ninguém pede permissão para dar a conhecer as leis da Natureza e salta sobre os erros e os preconceitos. – Quem tem esse direito? Neste século de emancipação intelectual e de liberdade de consciência, o direito de exame pertence a todos e as Escrituras não são mais a Arca Santa na qual ninguém se atreveria a tocar com a ponta do dedo, sem correr o risco de ser fulminado. Quanto às luzes especiais, necessárias, sem contestar as dos teólogos, por mais esclarecidos que fossem os da Idade Média, e, em particular, os Pais da Igreja, eles, contudo, não o eram bastante para não condenarem como heresia o Movimento da Terra e a crença nos antípodas. Mesmo sem ir tão longe, os teólogos dos nossos dias lançaram anátema à teoria dos períodos de formação da Terra?
Os homens só puderam explicar as Escrituras com o auxílio do que sabiam, das noções falsas ou incompletas que tinham sobre as leis da natureza mais tarde reveladas pela ciência. Eis porque os próprios teólogos, de muito boa fé, enganaram-se sobre o sentido de certas palavras e fatos do Evangelho. Querendo a todo custo encontrar nele a confirmação de uma idéia preconcebida, giravam sempre no mesmo ciclo, sem abandonarem o seu ponto de vista, de modo que só viam o que queriam ver, e por muito instruídos que fossem, eles não podiam compreender causas dependentes de leis que lhes eram desconhecidas.
Mas, quem julgará as interpretações diversas e muitas vezes contraditórias, fora do campo da teologia? O futuro, a lógica e o bom senso. Os homens, cada vez mais esclarecidos, à medida que novos fatos e novas leis se forem revelando, saberão separar da realidade os sistemas utópicos. Ora, as ciências tornam conhecidas algumas leis; o Espiritismo revela outras; todas são indispensáveis à inteligência dos Textos Sagrados de todas as religiões, desde Confúcio e Buda até o Cristianismo. Quanto à teologia, essa não poderá judiciosamente alegar contradições da Ciência, visto como também ela nem sempre está de acordo consigo mesma.”
De fato, vários anos após o que escreveu Kardec, acima, inúmeros e ilustres cientistas, entre o final do século XIX e início do século XX, realizaram experiências com médiuns (Ver o texto O Que São Médiuns?, neste blog), sob rigoroso controle para evitar-se a fraude, rendendo-se às fortíssimas evidências, passando a acreditar na existência do Mundo Espiritual, dos Espíritos e suas comunicações com o mundo material (Ver o texto "Ilustres Cientistas confirmaram: A Alma sobrevive à morte", neste blog). 
Durante todo o século XX e também no nosso século, cientistas e pesquisadores também vêm estudando os fenômenos espíritas, inclusive a reencarnação, confirmando-a (Ver os Textos Por Que Ser Espírita?, Fortes Evidências da Reencarnação, O Passe Espírita é estudado pela Universidade e Terapia Mediúnica Mostra-se Eficaz em Pesquisa na USP, neste blog).


      O Espiritismo nos diz que o surgimento de tudo o que existe possui uma causa primeira: a inteligência suprema, que chamamos de Deus.
       Igualmente, diz que Deus é Eterno, Imutável, Imaterial, Infinito, Todo-Poderoso, Soberanamente Justo e Bom.
        Para habitar e atuar na sua Criação, sob sua supervisão, fez surgir o Espírito, ser eterno, inteligente, sensível e dotado de personalidade e vontade próprias. Criou, e até hoje cria, inúmeros Espíritos, pois sua criação é infinita. Também criou um lugar para morada dos Espíritos, o Mundo Espiritual.
         Ele destinou aos Espíritos a suprema felicidade, esta sendo fruto da plena sabedoria, da comunhão entre eles e com o Criador. Contudo, quis Deus que este ser aprendesse, logo de início, os valores da humildade e do trabalho: criou-o simples e ignorante, tendo que conquistar a sabedoria através de muito esforço, para dar valor à mesma. Assim, o mérito pela sabedoria adquirida é todo seu.
        Dando meios de aprendizado para o Espírito, além do Mundo Espiritual, criou o Mundo Material. Aqui, ele recebe como veículo o corpo físico, frágil e perecível, capaz de lhe transmitir dor, que ele tem de sustentar com o trabalho. Na luta pela sobrevivência, pela fuga do sofrimento e em busca de prazer e conforto, ele é impelido a desenvolver sua inteligência e emoções, através de várias encarnações (Ver o texto "Por Que Esquecemos Nossas Vidas Passadas?", neste blog).
       Cansados de sofrer, devido às conseqüências da prática de malefícios e excessos de toda ordem (Ver o texto "Por Que Devemos Fazer o Bem?", neste blog), e constatando a fragilidade e transitoriedade dos bens e prazeres materiais, os Espíritos, finalmente, convencem-se de que o caminho para a felicidade plena e duradoura está no cultivo, em si mesmo, de valores de vida eterna. O amor ao próximo, a humildade e o total desapego do mundo material proporcionam-lhes grande leveza e paz interior. A harmonia e a união entre eles, em total sintonia uns com os outros, e a satisfação com a prática do bem, constitui-se em fonte de incomensurável alegria. O imenso intelecto, construído ao longo das várias vidas pelas quais passaram, dá-lhes uma visão de conjunto que lhes permite admirar a perfeita obra do Criador de forma muito mais completa. Nesse estágio, são capazes até mesmo de receber as inspirações diretas de Deus. Uma vez atingida a perfeição intelecto-moral a que podem chegar os Espíritos, eles não precisam mais reencarnar, exceto quando são encarregados de alguma missão que o exija. É quando podem ser chamados de Espíritos Puros ou Anjos.
             Contudo, Deus não lhes destinou à inatividade, a ficar eternamente em contemplação (aliás, isso seria uma verdadeira tortura para os Espíritos. Um tédio eterno). Conforme o grau de evolução intelectual e de maturidade moral, Ele lhes atribui tarefas, que executam com grande satisfação. São inúmeras as tarefas destes Espíritos, que vão desde auxiliar diretamente o aprendizado dos menos experientes, até a criação e o governo de universos, de mundos e das mais variadas formas de vida material. Como nos diz o Espírito André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier: ”Quando o servidor está pronto, o serviço aparece”.
             Nas religiões ao redor do mundo, encontramos um ensinamento em comum. É a Regra de Ouro: Ama a teu próximo como a ti mesmo (Ver o texto “Por Que Devemos Fazer o Bem?”, neste blog).
Espíritos em missão, em várias épocas da humanidade, conforme a cultura de cada época e lugar, vieram inspirar os homens, com sua sabedoria e exemplos, para fazê-los avançar na senda do progresso, através de mensageiros como Moisés, Jesus, Krishna e Buda.
           
Conforme já mencionamos no texto anterior, citando as palavras de J.Herculano Pires:
“[...] A origem mediúnica das religiões é hoje uma tese provada pelas pesquisas antropológicas e etnológicas. Só os materialistas a rejeitam.”
“[...] A origem da Bíblia é um capítulo natural desse processo geral que originou as religiões.”
            Podemos dizer que o Espiritismo fornece a chave para entendermos a Bíblia. encontramos nela vários fenômenos mediúnicos e ensinamentos concordantes com os postulados espíritas. De fato, Moisés tinha plena consciência da ignorância do povo que conduzia. Sabia que não estavam preparados para exercer a mediunidade com a devida seriedade que esta exige, sem abusos, mas era favorável à mediunidade com um fim sério, instrutivo. Inclusive desejava que o povo, dessa forma, a praticasse, como vimos no texto anterior, na passagem citada pelo professor Romeu Amaral Camargo (Números, capítulo 11, versículos de 26 a 29). O próprio Moisés era excelente médium, e possuía uma escola de médiuns, como vimos no texto anterior, na passagem citada por J.Herculano Pires (Números 11:23-25). Ali, ele comunica-se com Iahvéh, o Espírito guia do povo Hebreu, fazendo com que o mesmo se materialize com a ajuda de um grupo de médiuns (Ver o texto A Bíblia Condena o Espiritismo?, neste blog).
            Realmente, fica claro que Iahvéh era um Espírito, com a missão de guiar o povo Hebreu através da mediunidade de Moisés, transmitir os Dez Mandamentos (Código de Moral Universal) e consolidar o Monoteísmo (a crença em um único Deus), não sendo o Deus Criador do Universo. Inicialmente, podemos deduzir isto pela própria personalidade de Iahvéh: temperamental, vingativo, violento e guerreiro. Como exemplo, vejamos essa passagem de I Samuel 15, 2 e 3, onde Samuel transmite as ordens que recebeu de Iahvéh : "Vou pedir contas a Amalec do que ele fez a Israel, opondo-se-lhe no caminho, quando saiu do Egito. Vai, pois, fere Amalec e vota ao interdito tudo o que lhe pertence, sem nada poupar: matarás homens e mulheres, crianças e meninos de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos. 
       Natural que fosse assim, pois, em geral, os protetores espirituais são proporcionalmente superiores a seus tutelados. Ele era um Espírito de nível evolutivo apropriado àquela época de ignorância. Conforme nos diz J.Herculano Pires, ele “se apresentava como Deus, porque a mentalidade dos povos do tempo era mitológica, e os Espíritos eram considerados deuses.”. 
     Comparemos agora a passagem do Velho Testamento, citada acima, com esta, do Novo Testamento, em Mateus 19, 16 e 17, quando um jovem rico faz uma pergunta a Jesus: "Bom Mestre, o que é preciso que eu faça para adquirir a vida eterna? Jesus lhe respondeu: Por que me chamais bom? Só Deus é bom". Será que Jesus se refere ao mesmo Deus citado em I Samuel, que manda matar até crianças de peito?  Certamente que não. Além do mais, existem passagens no Velho Testamento que mostram claramente que Iahvéh era um Espírito, como a que citamos no texto anterior, quando ele se materializou (Números 11:23-25), o que certamente também aconteceu nesta outra passagem (Êxodo, 24, 9-11): 
       "Moisés subiu com Aarão, Nadab e Abiú, e setenta anciãos de Israel (a escola de médiuns de Moisés). Eles viram o Deus de Israel. Sob seus pés havia como um lajeado de safiras transparentes, como o osso dos céus em pureza. E aos nobres filhos de Israel, Deus não estendeu sua mão; e viram a Deus, e comeram e beberam..". 
         Vejamos esta outra passagem (Números 12, 4-8): 
        "Subitamente disse Iahvéh a Moisés, a Aarão e a Míriam: Vinde, todos os três, à tenda de reunião. Os três foram e Iahvéh desceu numa coluna de nuvem e se deteve à entrada da tenda.". Novamente, aparece a coluna de nuvem, que certamente trata-se de ectoplasma, substância bastante familiar nas sessões de materialização de Espíritos, realizadas em experiências de inúmeros pesquisadores dos fenômenos espíritas.
         Lemos acima que várias pessoas viram Iahvéh. Contudo, nesta passagem do Evangelho de João 1, 18, lê-se: 
        "Ninguém jamais viu a Deus; quem nos revelou Deus foi o Filho único, que está junto ao Pai.". Claro que   ninguém na Terra viu a Deus, o Criador do Universo, só Jesus, que está em um patamar espiritual tal que pode fazê-lo.
              Fazemos nossas as palavras do autor do artigo da revista "Sabedoria", Ano 5, Número 51, páginas 68 a 69, (citado por Severino Celestino, na obra já citada) na qual o autor se refere às "Qualidades atribuídas a Deus na Biblia": "Diante do exposto podemos concluir que se Iahvéh tem forma, falava boca a boca, inspirava, ditava, chegava, chamava e incorporava, evidentemente não é um Deus absoluto e imanifesto e sim um espírito desencarnado. um espírito superior, um anjo, um Santo, um "espírito guia" dos hebreus e jamais o Deus absoluto Supremo a quem João se refere no cap.1, 18 do seu evangelho O qual ninguém jamais viu".
             O próprio Paulo de Tarso, em  Atos 7:30-31como já citamos no texto anterior, afirma que Deus falou a Moisés através de um anjo na sarça ardente. Explicando melhor esta passagem, a primeira vez  que Iahvéh falou a Moisés foi no Monte Horeb, quando aconteceu o episódio da sarça ardente, uma planta que apresentava chama, sem, contudo, consumir-se (ver Êxodo 3: 1-6).
            Relativamente às comunicações com os Espíritos desencarnados na Bíblia, além da passagem, citada no texto anterior (provérbios, 31:1-9), que descreve a comunicação do Rei Samuel com sua mãe desencarnada, temos muitas outras passagens de comunicações de Espíritos. Por exemplo, conforme nos diz Severino Celestino, na obra já citada: “No I Livro de Samuel 28, 7 a 17, vemos Saul em casa da Pitonisa de Endor conversando com o espírito de Samuel que já se encontrava no mundo espiritual. Isto ocorre mesmo depois da proibição de Moisés e do próprio Saul como rei de Israel.” “[...] Nesta comunicação, tudo o que a “pitonisa” (médium) disse e previu ocorreu. Isto denota a seriedade e legitimidade do fenômeno mediúnico ocorrido.”
            No Novo Testamento, vemos Jesus conversando com os Espíritos de Moisés e de Elias, no episódio da Transfiguração, em Mateus 17:1-8.
            A Reencarnação aparece claramente no texto bíblico. Por exemplo, no velho testamento, temos, no livro de Job 33:21-30: 
         "Consome-se sua carne, desaparecendo da vista, expondo os ossos que antes não se viam. Sua alma aproxima-se da sepultura, e sua vida do jazigo dos mortos, a não ser que encontre um Anjo favorável, um Mediador entre mil, que dê testemunho de sua retidão, que tenha compaixão dele e diga: Livra-o de baixar à sepultura, que encontrei resgate para sua vida; e sua carne reencontrará a força juvenil e voltará aos dias de sua juventude. Suplicará a Deus e será atendido, contemplará com alegria sua face. Anunciará aos homens sua justificação, cantará diante dele e dirá: Pequei e violei a justiça: e Deus não me tratou de acordo com minha culpa. Salvou minha alma da sepultura, e minha vida se inunda de luz. Tudo isso faz Deus duas ou três vezes ao homem, para tirar sua alma da sepultura e iluminá-lo com a luz da vida". 
          Comentário de Severino Celestino, sobre esse trecho: "Observe que todo este trecho refere-se à misericórdia divina dando uma nova chance àquele que errou. o último versículo grifado confirma, ainda, que Deus salva nossa alma da sepultura, duas ou três vezes, inundado-a de luz. Duas ou três vezes é um número simbólico que significa quantas vezes seja necessário até a nossa completa evolução". 
          Podemos chamar a atenção também para o trecho do "Anjo favorável", que diz: "Livra-o de baixar à sepultura, que encontrei resgate para sua vida", que pode perfeitamente ser interpretado como os bons Espíritos que nos auxiliam em nossa evolução, nos guiando para novos corpos, isto é, reencarnações, necessárias ao resgate de nossas faltas e, dessa forma, à nossa ascensão espiritual.    
           Outro exemplo, analisado por Severino Celestino, cuja tradução encontra-se incorreta na Bíblia de Jerusalém – Edições Paulinas, além da reencarnação, temos a Lei de Causa e Efeito. Trocando duas preposições (sobre e por trocados por até), e o adjetivo zeloso por ciumento, no texto do Êxodo, no capítulo 20, de 5 e 6. Desfigurou-se assim o sentido reencarnacionista do texto. Veja a tradução incorreta:
            “Não te prostarás diante desses deuses e não os servirás porque Eu, Iahvéh teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniqüidade dos pais sobre os filhos, até a terceira e quarta geração dos que me odeiam, mas que também ajo com amor até a milésima geração dos que me amam e guardam os meus mandamentos.”
            É evidente a falta de lógica deste texto. Os filhos são punidos pelas faltas dos pais? Onde está a Responsabilidade Pessoal dos atos de cada um? Vejamos a tradução correta:
“Não te prostarás diante deles e não os servirás porque Eu, Iahvéh teu Deus, sou um Deus zeloso, que visito a culpa dos pais sobre os filhos, sobre a terceira e quarta geração dos que me odeiam, mas também ajo, com benevolência ou misericórdia por milhares (infinitas) de gerações, sobre os que me amam e guardam os meus mandamentos.”
Evidentemente que, praticando o mal, o Espírito, conforme a Lei de Causa e Efeito (Ver o texto Por Que Devemos Fazer o Bem?, neste blog), só poderia reencarnar, e assim sofrer as conseqüências dos seus atos, a partir do seu neto em diante, e não, por exemplo, como seu filho. Já o Espírito que ama a Deus e pratica o bem, terá a benevolência e a misericórdia de Deus infinitamente. Assim, o texto torna-se inteligível e conforme a justiça de Deus. Ciumento seria um atributo negativo, humano. Zeloso é um atributo muito mais conforme o Criador.     
            Em Ezequiel, 18, 1 e 2, confirma-se a Responsabilidade Pessoal de cada um por seus atos:
            “Perguntais por que não leva o filho a iniqüidade do pai! É que o filho praticou a justiça e a equidade, e, como observa e cumpre as minhas leis, também viverá. É o pecador que deve perecer. Nem o filho responderá pelas faltas do pai nem o pai pelas do filho. É ao justo que se imputará sua justiça, e ao mau sua malícia.”
           
               Em Malaquias 3, 23 ou 4, 5 em algumas Biblias, temos a previsão da reencarnação de Elias:
               “ Eis que vos enviarei Elias, o profeta, antes que venha o dia de Iahvéh grande e terrível”.
            
          No Novo Testamento, em Mateus 11, 12-14, temos Jesus, claramente, afirmando que João Batista é Elias reencarnado:
          “Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos Céus sofre violência, e os violentos se apoderam dele. Porque todos os profetas bem como a Toráh profetizaram até João. E se quiserdes dar crédito, é ele o Elias que devia vir.”
          João Batista estava vivo no momento em que Jesus fez esta afirmativa. Quando Jesus disse “Desde os dias de João Batista”, queria dizer: “Desde os dias de Elias”, ou seja, João Batista era Elias reencarnado. E arremata: “é ele o Elias que devia vir.”
                Em Mateus 17:10-13 e Marcos 9:11-13, também temos:
                "Seus discípulos o interrogaram, dizendo:Por que, pois, os escribas dizem que é preciso que Elias venha antes? Mas Jesus lhes respondeu: É verdade que Elias deve vir e restabelecer todas as coisas; mas eu vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram, mas o trataram como lhes aprouve. É assim que eles farão sofrer o Filho do Homem. Então os discípulos compreenderam que era de João Batista que lhes havia falado". 
               Mais uma vez, Jesus afirma que João Batista era Elias reencarnado. O tratamento que deram a João Batista, referido por Jesus, foi a sua decapitação a mando do Rei Herodes.  
           A reencarnação fazia parte da crença do povo judeu, cuja religião provinha do Velho Testamento. Tanto que, em João 9, 1 e 2, temos:
            “E passando Jesus, viu um homem cego de nascença. Perguntaram-lhe os seus discípulos: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”
            Jesus afirma que, naquele caso, não era uma coisa nem outra. Porém não aproveitou aquela oportunidade para rechaçar a reencarnação, nem em nenhuma outra ocasião, o que, como lhe era habitual, faria caso fosse contrário à essa crença. Aliás, nas passagem sobre João Batista, vistas acima, e em várias outras, está demonstrado, claramente, que ela fazia parte dos seus ensinos. Mas o mais interessante é a pergunta: “quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”. Demonstra que os discípulos (judeus) acreditavam na reencarnação e na lei do Karma (ou Lei de Causa e Efeito). Como o homem em questão era cego de nascença, sua cegueira só poderia ter sido consequência de um pecado, ou seja, um malefício praticado por ele, em uma vida anterior, caso a primeira hipótese da pergunta dos discípulos fosse a verdadeira.
           Outra passagem que demonstra a crença dos Judeus na reencarnação, também sem recriminação de Jesus a esta crença, está em Mateus 16: 13-17 e Marcos 8: 27-30: 
             "Jesus, tendo vindo para os lados de Cesaréia de Felipe, interrogou seus discípulos e lhes disse: que dizem os homens quanto ao Filho do Homem? Quem dizem que eu sou? Eles lhe responderam: Alguns dizem que sois João Batista, outros Elias, outros Jeremias ou algum dos profetas. Jesus lhes disse: E vós outros, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro, tomando a palavra, lhe disse: Vós sois o Cristo, o Filho de Deus vivo. Jesus lhe respondeu: Sois bem aventurado, Simão, filho de Jonas, porque não foi nem a carne nem o sangue que vos revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus".     
            
          Para um maior aprofundamento no assunto tratado neste texto, remetemos o leitor a duas excelentes obras: “Analisando as Traduções Bíblicas”, de Severino Celestino da Silva, Editora Núcleo Espírita Bom Samaritano, e “Visão Espírita da Bíblia”, de J.Herculasno Pires, Editora Correio Fraterno.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

1 KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro : Editora FEB,1995.;

2_____________ . O Evangelho segundo o Espiritismo. São Paulo : Editora Petit, 1997.;
3______________.A Gênese: Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Editora FEB, 1988;
4 SILVA, Severino Celestino da. Analisando as traduções bíblicas:refletindo a essência da mensagem bíblica. João Pessoa: Editora Núcleo Espírita Bom Samaritano, 2000;

5 PIRES, José Herculano. Visão espírita da Biblia. São Paulo: 6 ed.Correio Fraterno [2009];

6 XAVIER, Francisco Cândido; Emmanuel(Espírito). A Caminho da Luz. Rio de Janeiro: 14 ed.FEB [1986]



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