domingo, 17 de fevereiro de 2013

QUEM É JESUS? PARTE 3 – COMO PODEMOS OBTER A SALVAÇÃO?


Fonte da imagem: http://blog-do-caminho.blogspot.com.br/2011/02/21-verdades-sobre-evolucao-espiritual.html

Fábio José Lourenço Bezerra

            Dando continuidade aos dois textos anteriores, Quem é Jesus? e Quem é Jesus Parte 2 – Jesus é Deus?, neste blog, segundo determinadas doutrinas religiosas, Jesus veio ao mundo para redimir o pecado dos homens. Era o cordeiro de Deus, oferecido em sacrifício na cruz para aplacar ira de Deus, perante a iniquidade dos seres humanos. Ainda segundo essas doutrinas, a partir do sacrifício de Jesus, basta aos homens crerem nele como sendo o salvador, para serem salvos. Quem recusar-se a crer nisso, estará condenado a sofrer eternamente no inferno, após a morte. Trata-se de uma doutrina de origem medieval, utilizando-se de uma antiga crença judaica, onde oferece-se um sacrifício para apagar os próprios pecados. Na páscoa, os judeus costumavam sacrificar um cordeiro como oferenda a Deus, com esse intuito.
Contudo, se considerarmos que Deus é todo-poderoso, soberanamente justo e bom, veremos que essa ideia é bastante ilógica. Então, vejamos:
- Se sofrer eternamente ou não após a morte depende da adoção de determinada crença, então porque várias pessoas, diariamente, morrem sem nada conhecer desta crença? (por exemplo, um indiano que nunca ouviu sequer falar de Jesus) E os milhões que morreram no passado sem dela nada conhecer? Caso sejam salvos porque não conheceram essa crença, porque o privilégio de não a terem conhecido, enquanto outros são apresentados a ela, arriscando-se a não aceitá-la? Se não são salvos, porque então nasceram impossibilitados de conhecê-la? Estariam destinados à condenação desde o momento do seu nascimento;
- Se Deus é bom, então porque ele não daria mais oportunidades para arrependimento, antes de jogar seu filho em um suplício eterno? Se alguém, por exemplo, viveu 20 anos e não adotou a crença supracitada, morrendo e indo para o inferno, será que se pudesse ter vivido até os 100 anos (como muitos vivem atualmente), durante os 80 anos restantes não poderia ter se arrependido e, assim, ganho o céu? E enquanto arde no inferno, será que também aí não poderia se arrepender? Se sim, então porque Deus não lhe daria uma chance?
Sem dúvida, são perguntas de difícil resposta, caso consideremos Deus todo-poderoso, infinitamente bom e justo. É que esta doutrina teve origem em mentes medievais, que possuíam o conhecimento limitado de sua época, o que acabou refletindo-se na teologia que criaram. Consideravam Deus como um rei orgulhoso e implacável em suas punições, tal como eram muitos reis da idade média. Ou, quem sabe, uma vez que a Igreja e os reis andavam de mãos dadas naquela época, não adotaram essa crença como forma de ter poder sobre a população? Aliás, os próprios reis temiam ir para o inferno. Assim, a Igreja detinha poder sobre eles. Se, em uma ou outra passagem dos evangelhos, existe a possibilidade de interpretar-se os ensinamentos de Jesus da maneira como pregam as crenças supracitadas, em muitos casos deve-se à adulteração dos textos originais, má tradução das cópias existentes ou má interpretação dos próprios apóstolos que, afinal de contas, possuíam suas próprias crenças antes do aparecimento de Jesus (ver o texto Quem é Jesus?, neste blog).
Seja como for, esse Deus que pregam é bem diferente daquele que Jesus citou na seguinte passagem, que inclusive aparece em três evangelhos, quando ele encontra-se com um jovem rico, que lhe chama de Bom Mestre: “Por que me chamas bom? Bom não é senão o Pai que está nos céus” (Mateus 19:17, Marcos 10:17, Lucas 18:18). Jesus, que tanto bem fez às pessoas enquanto estava na Terra, recusava-se a ser chamado de bom naquela ocasião. Com certeza, fez isto não apenas por sua humildade, mas também porque seu ponto de referência de bondade era Deus, e aproveitou a ocasião demonstrar o quanto Deus é bom.
Essas doutrinas também vão contra as palavras de Jesus nessa passagem: “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras” (Mateus 16:27).

Vejamos o que disse Allan Kardec em sua obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Capítulo XV. Ele começa citando algumas passagens do Novo Testamento:

“O DE QUE PRECISA O ESPÍRITO PARA SE SALVAR.

PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

 “Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á no trono de sua glória; reunidas diante dele todas as nações, separará uns dos outros, como o pastor separa dos bodes as ovelhas e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda”.
“Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo; porquanto, tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; careci de teto e me hospedastes; estive nu e me vestistes; achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver”.
“Então, responder-lhe-ão os justos: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te ?’ O Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes’ ”.
“Dirá em seguida aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos; porquanto, tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber; precisei de teto e não me agasalhastes; estive sem roupa e não me vestistes; estive doente e no cárcere e não me visitastes’”.
“Também eles replicarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e não te demos de comer, com sede e não te demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente ou preso e não te assistimos?’ Ele então lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: todas as vezes que faltastes com a assistência a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo mesmo. E esses irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna’”.(MATEUS, 25:31 a 46)
 2. Então, levantando-se, disse-lhe um doutor da lei, para o tentar: “Mestre, que preciso fazer para possuir a vida eterna?” Respondeu-lhe Jesus: “Que é o que está escrito na lei? Que é o que lês nela?” Ele respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, com todas as tuas forças e de todo o teu espírito, e a teu próximo como a ti mesmo”.Disse-lhe Jesus: “Respondeste muito bem; faze isso e viverás”. Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a Jesus: “Quem é o meu próximo?” Jesus, tomando a palavra, lhe diz: “Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. Um levita, que também veio àquele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixão. Aproximou-se
dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: ‘Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar’. Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões?” O doutor respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. “Então, vai!” – diz Jesus – “E faze o mesmo”.(LUCAS, 10:25 a 37)
3. Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade: Bem-aventurados, disse, os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventuradosos que são misericordiosos; amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar e o de que dá, ele próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa de combater. E não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura.
No quadro que traçou do juízo final, deve-se, como em muitas outras coisas, separar o que é apenas figura, alegoria. A homens como os a quem falava, ainda incapazes de compreender as questões puramente espirituais, tinha ele de apresentar imagens materiais chocantes e próprias a impressionar. Para melhor apreenderem o que dizia, tinha mesmo de não se afastar muito das idéias correntes, quanto à forma, reservando sempre ao porvir a verdadeira interpretação de suas palavras e dos pontos sobre os quais não podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade reservada ao justo e da infelicidade que espera o mau.
Naquele julgamento supremo, quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles. Informa-se, por acaso, da ortodoxia da fé? Faz qualquer distinção entre o que crê de um modo e o que crê de outro? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição única. Se outras houvesse a serem preenchidas, ele as teria declinado. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.”

O MANDAMENTO MAIOR

4. Mas, os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca aos saduceus, se reuniram; e um deles, que era doutor da lei, foi propor-lhe esta questão, para o tentar: “Mestre, qual o grande mandamento da lei?” Jesus lhe respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito. Esse o maior e o primeiro mandamento. E aqui está o segundo, que é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois
mandamentos”. (MATEUS, 22: 34 a 40)
5. Caridade e humildade, tal a senda única da salvação. Egoísmo e orgulho, tal a da perdição. Este princípio se acha formulado nos seguintes precisos termos: “Amarás a Deus de toda a tua alma e a teu próximo como a ti mesmo; toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” E, para que não haja equívoco sobre a interpretação do amor de Deus e do próximo, acrescenta: “E aqui está o segundo mandamento que é semelhante ao primeiro”, isto é, que não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar o próximo, nem amar o próximo sem amar a Deus. Logo, tudo o que se faça contra o próximo o mesmo é que fazê-lo contra Deus. Não podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se resumem nesta máxima: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.

NECESSIDADE DA CARIDADE, SEGUNDO S. PAULO

6. “Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. E, quando houvesse distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria”.
“A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre”.
“Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade”. (S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, 13:1 a 7 e 13)
7. De tal modo compreendeu S. Paulo essa grande verdade, que disse: Quando mesmo eu tivesse a linguagem dos anjos; quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios; quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Dentre estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade. Coloca assim, sem equívoco, a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao alcance de toda gente: do ignorante, como do sábio, do rico, como do pobre, e independe de qualquer crença particular.
Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a não só na beneficência, como também no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.”

            A salvação, isto é, a chegada do Espírito ao seio de Deus, dar-se-á quando ele atingir o pleno desenvolvimento intelecto-moral, isto é, a perfeição (ver o texto Evolução: A Jornada do Espírito, neste blog), como disse o próprio Jesus:

“Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam. Porque, se somente amardes os que vos amam, que recompensa tereis disso? Não fazem assim também os publicanos? Se unicamente saudardes os vossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial” (MATEUS, 5:44, 46 a 48).
           
Contudo, uma vida só, evidentemente, é insuficiente para que o Espírito atinja a perfeição. Para isso, torna-se necessária a experiência adquirida após várias encarnações. Como falou Jesus na seguinte passagem do Evangelho de João:

“Ora, entre os fariseus, havia um homem chamado Nicodemos, senador dos judeus, que veio à noite ter com Jesus e lhe disse: “Mestre, sabemos que vieste da parte de Deus para nos instruir como um doutor, porquanto ninguém poderia fazer os milagres que fazes, se Deus não estivesse com ele.” Jesus lhe respondeu: “Em verdade, em verdade digo-te: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.”
Disse-lhe Nicodemos: “Como pode nascer um homem já velho? Pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, para nascer segunda vez?” Retorquiu-lhe Jesus: “Em verdade, em verdade, digo-te: Se um homem não renasce da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te admires de que eu te haja dito ser preciso que nasças de novo. O Espírito sopra onde quer e ouves a sua voz mas não sabes donde vem ele, nem para onde vai; o mesmo se dá com todo homem que é nascido do Espírito.” (S. JOÃO, 3:1 a 8.)

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

1 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB. Versão digital: Ery Lopes – 2007.

2 EHRMAN, Bart D. Evangelhos Perdidos. Rio de janeiro: Editora Record, 2008;

3______________.O Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse?: quem mudou a Bíblia e porque. São Paulo: Editora Prestígio, 2006;
4______________.Quem Jesus Foi?  Quem Jesus Não Foi? : mais revelações inéditas sobre as contradições da Bíblia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2010;
5 ______________.O Problema Com Deus: as respostas que a Bíblia não dá ao sofrimento. Rio de Janeiro, Editora Agir, 2008;
6 RANGEL, Liszt. Arqueologia dos Evangelhos: uma releitura histórica do pensamento de Jesus. Recife: Editora  Bom Livro, 2009;
7 SILVA, Severino Celestino da. Analisando as Traduções Bíblicas: refletindo a essência da mensagem bíblica. João Pessoa: Editora Núcleo Espírita Bom Samaritano, 2000;
8 PROPHET, Elizabeth Clare e PROPHET, Erin L.Reencarnação: o elo perdido do cristianismo. Rio de janeiro: Editora Nova Era, 2003.

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