terça-feira, 12 de janeiro de 2016

FRANCISCO: O PAPA DA MUDANÇA - PARTE 2

Fonte da imagem: http://papa.cancaonova.com/deus-nao-condena-so-pode-amar-diz-papa/

Fábio José Lourenço Bezerra

            O Papa Francisco, corajosamente, vem fazendo uma verdadeira reforma na Igreja Romana, mesmo enfrentando grandes pressões de dentro e de fora dela. Também vem chamando a atenção dos fiéis para a necessidade de se viver os legítimos ensinamentos de Jesus.
            Dando continuidade ao nosso texto anterior (Ver o texto Francisco: o Papa da Mudança, neste blog), extraímos, na íntegra, uma série de artigos sobre o Papa Francisco. Publicados no site do jornal El País (http://brasil.elpais.com/), os artigos abaixo ilustram muito bem a atuação restauradora desse verdadeiro enviado de Jesus.  

O papa Francisco volta a provocar os católicos

Conversando com fiéis em Roma, o pontífice disse que o cristão que “não se considere pecador” é melhor que “não vá à missa”


Por Juan Arias, 16/02/2014
O papa Francisco, ao contrário de seus antecessores que mediam e pesavam as palavras, gosta de provocar. E não o faz através de pesadas encíclicas ou documentos pontifícios. Provoca os católicos nas ruas e praças, como há dois mil anos o fazia o profeta inconformista de Nazaré.
Sua última provocação ocorreu na quarta-feira passada conversando com os fiéis em Roma. Disse-lhes, como a coisa mais normal do mundo, que ao cristão que “não se considere um pecador” é melhor que “não vá à missa”.
Mais ainda, segundo Francisco, os que vão à missa para aparentar que “são melhores que os outros”, melhor que fiquem em casa. Não há espaço para eles na igreja.
Advertiu também, com humor, os fiéis para que quando forem à missa não façam “fofocas”, comentando, por exemplo, como está vestida a fulana de tal. Talvez se referisse às cerimônias de casamento. Francisco, quando era cardeal arcebispo de Buenos Aires, ironizava ao comentar que muitos católicos assistem a esse tipo de cerimônia sem se importar com a missa, e mais "como está vestida a noiva e as suas convidadas”.
O novo papa latino-americano está ressuscitando a Igreja do entendimento e da misericórdia após séculos de inquisição. Está pulando centenas de anos de teologia e doutrina patrística para levar a Igreja às suas origens, quando ainda não existiam tribunais de inquisição e quando no centro de tudo estava a teologia do perdão, e não a do castigo.
Até a chegada de Francisco, os pontífices mediam cada palavra e até suas encíclicas tinham que passar pela censura da Congregação para a Doutrina da Fé e do jornal oficial do Vaticano, L´Osservatore Romano. Não eram livres para dizer o que sentiam com espontaneidade.
Lembro de só um papa, João XXIII -pelo que dizem parecido com Francisco- que, quando visitava algum bairro pobre na periferia de Roma, ao falar improvisando, dizia com humor aos jornalistas que o acompanhavam: “Melhor que tomem nota, porque é possível que amanhã o que eu estou dizendo não saia publicado no L´Osservatore Romano”. E era verdade - o censuravam.
Francisco surge quebrando velhos tabus. Não se sente de mãos atadas quando fala, nem se preocupa excessivamente com a possibilidade de suas palavras poderem ou não deixar de cabelo em pé certos teólogos conservadores.
Sente-se seguro porque ele fez um link com a Igreja primitiva, e mais ainda, com os textos bíblicos, antes de que fossem domesticados pelas diversas teologias ao longo dos séculos. A afirmação de que se um cristão não se sente pecador é melhor que não vá à missa não deixará de soar quase como uma heresia a muitos católicos conformistas.
No entanto, essa volta à ideia de uma Igreja não triunfante, não de justos e santos senão de pecadores, não de eleitos senão dos que buscam a piedade e a misericórdia, Francisco está resgatando dos evangelhos, dos ensinamentos diretos do profeta judeu.
Três passagens dos evangelhos de Lucas e João dariam plena razão à última provocação de Francisco. A primeira é quando é acusado pelos fariseus de ter ido com seus apóstolos comer na casa de um publicano, uma categoria considerada como de “pecadores”. Jesus aproveita a crítica feita pelos que se acham bons e diz: “Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento", e acrescenta: “Os sãos não precisam de médico, mas sim os enfermos". (Lucas 5, 27-32)
No mesmo evangelho (18, 9-14), aos que se consideravam justos (sem pecados) e “menosprezavam os outros”, propôs a seguinte parábola: dois homens foram rezar no templo, um era fariseu (justo) e o outro publicano (pecador). O fariseu, em pé, para ser visto melhor, rezou assim: “Ó Deus, graças te dou porque eu não sou como os outros, ladrões, injustos, adúlteros, nem como esse publicano aí. Eu jejuo duas vezes por semana e dou ao templo o dízimo de tudo o que ganho”.
Por trás dele, em um canto, o publicano pecador não ousava nem levantar os olhos e batia no peito dizendo: “Senhor, ajudem-me porque eu sou um pecador”. Jesus resume: “Digo-vos que o publicano voltou à sua casa justificado, e não o fariseu”.
No evangelho de João (8,2), um grupo de homens quis colocar à prova a fama de misericordioso de Jesus com os pecadores e levaram à força até ele uma mulher flagrada em adultério: “A lei manda matá-la (por apedrejamento). Tu, pois, que dizes?”. Queriam que Jesus se declarasse contra a lei judaica. Não sabemos o que respondeu, porque escrevia na terra do templo com o dedo, enquanto a mulher, humilhada, se encontrava jogada no chão, em uma cena que deixava enlouquecido o famoso cineasta ateu italiano Pier Paolo Pasolini, que me perguntava incrédulo: “Mas por que os apóstolos não se interessaram em nos contar o que Jesus escrevia?”.
Sabe-se apenas que quando Jesus propôs aos acusadores que atirassem a primeira pedra os que “estivessem sem pecado”, estes começaram a ir embora, “começando pelos mais velhos”. À mulher em pecado, Jesus pergunta: “Ninguém te condena? Eu tampouco, vai em paz e não peques mais”.
Os legalistas, incapazes de misericórdia, não perdoaram, no entanto, o profeta pelo seu gesto de misericórdia com a adúltera e o levaram à cruz ainda muito jovem.
Francisco está ressuscitando a Igreja que preferia perdoar que condenar, entender o coração humano em vez de anatematizar, convencido como está que a Igreja que, por exemplo, faz do confessionário (em expressão sua) um “local de tortura”, não responde à sonhada por seu fundador: uma Igreja que não condena ninguém e que deixa o julgamento final nas mãos de Deus, de quem dizia o profeta Isaías que é mais mãe do que pai.
Não parece Francisco, efetivamente, mais uma mãe que fecha os olhos às travessuras de seus filhos que um pai severo sempre disposto a castigar? “Quem sou eu para julgar um homossexual?”, disse aos jornalistas no avião de volta do Brasil.
Francisco está sendo severo só contra os que violentam os menores inocentes, isto é, contra os pedófilos dentro da Igreja. Bem mais que seus antecessores. E também nisso segue as impressões do mestre que chegou a pedir a pena de morte para quem escandalizasse as crianças. “Melhor seria que colocassem uma pedra de moinho no pescoço e o jogassem no mar”, disse a seus discípulos.
Francisco é, na verdade, o primeiro papa a surpreender desde o primeiro momento ao confessar com coragem: “Eu também peco”.
Quanto aguentará a Igreja tradicional essa revolução repentina?

Papa alerta sobre as 15 doenças que atingem a Cúria

Por Pablo Ordaz, 23/12/14

É o raio que não termina. O papa Francisco continua aproveitando qualquer oportunidade para denunciar os pecados da Cúria. Com carinho, mas também com dureza. O papa Francisco aproveitou a fala de natal para os homens que o ajudam – mesmo que nem sempre – a dirigir os destinos da Igreja para adverti-los sobre as doenças mais comuns que minam a saúde do Vaticano. Desde “sentirem-se imortais e indispensáveis” ao Alzheimer espiritual – a perda da memória de Deus –, passando pelo mundano, o exibicionismo, a vaidade e “o terrorismo dos boatos”. Uma lista de 15 doenças e seus possíveis tratamentos.
A relação não tem desperdício, portanto a seguir estão resumidas uma por uma e por ordem. A primeira das 15 doenças da Cúria enumeradas por Bergoglio em sua longa fala – apoiada em citações do Evangelho e de várias encíclicas – é a de “sentirem-se imortais, imunes” e até mesmo “indispensáveis”. Diz o Papa que “uma Cúria que não faz autocrítica, que não se atualiza e que não tenta melhorar é um corpo doente”. Francisco fala da patologia do poder, “do complexo dos eleitos”, de todos aqueles que “se transformam em donos e sentem-se superiores a todos e não ao serviço de todos”. O possível remédio proposto por Jorge Mario Bergoglio é sem dúvida marcante: “Uma visita aos cemitérios nos poderia ajudar a ver os nomes de pessoas que talvez também pensassem ser imortais, imunes e indispensáveis!”.
A segunda é a “doença da laboriosidade excessiva”. Francisco lembra que Jesus também aconselhou seus apóstolos a “descansar um pouco”. Disse que para evitar “o estresse e a agitação” é necessário “passar tempo com a família, respeitar as férias”, utilizá-las para recuperar-se “espiritual e fisicamente”. A terceira doença é a do “endurecimento mental e espiritual”. Francisco adverte sobre os que têm um “coração de pedra”, se escondem atrás dos papéis e do gerenciamento e perdem “a sensibilidade humana”, a capacidade de amar ao próximo. A quarta doença é a da “excessiva planificação e funcionalidade”. O Papa diz – em uma mensagem dirigida talvez para os mais tradicionalistas da Igreja – que são necessárias “a frescura, a fantasia e a novidade” para não fechar-se “nas próprias posições estáticas e inamovíveis”. A quinta doença é a “má coordenação”. Francisco assegura que quando falta a colaboração e o espírito de equipe – “o pé que diz ao braço ‘não preciso de você’” – é quando chega “o mal-estar e o escândalo”.
“Una Cúria que não faz autocrítica e que não trata de melhorar é um corpo doente”, diz o Papa
A sexta doença que Francisco diz ter detectado na Cúria é a do “Alzheimer espiritual”: “Podemos vê-lo naqueles que perderam a memória do encontro com o Senhor (...) e dependem completamente de seu presente, de suas paixões, de seus caprichos e manias; (...) convertendo-se em escravos dos ídolos esculpidos por suas próprias mãos”. A sétima doença, “gravíssima” segundo o Papa, é a da “rivalidade e da vaidade”, quando “a aparência, a cor das roupas e as insígnias de honra se transformam no objetivo prioritário da vida”. Não é preciso dizer mais nada.
A oitava das 15 doenças é a “esquizofrenia assistencial”, sofrida por aqueles membros da Cúria que vivem “uma vida dupla”, que se dedicam aos assuntos burocráticos da Santa Sé perdendo o contato com a realidade das pessoas de carne e osso: “Acreditam assim em um mundo paralelo e vivem uma vida escondida e frequentemente dissoluta. A conversão dessas pessoas é urgente”.
As próximas doenças detalhadas pelo Papa não são exclusivas do interior do Vaticano. É possível dizer que são vírus espalhados universalmente. No ponto nove, um clássico nas falas de Francisco, fala do perigo da afeição em criticar e fofocar – “irmãos, vamos nos guardar do terrorismo das boatarias!” –, e o 10 enfatiza o perigo de “divinizar os chefes”, uma bajulação vital na qual tantos baseiam sua ambição de ascender, “pensando somente no que é possível obter e não no que se deve oferecer”. A doença número 11 é “a indiferença com os demais”, muito ligada também ao egoísmo, “quando cada um pensa somente em si mesmo e perde o calor das relações humanas”. A doença seguinte – a do “rosto fúnebre” – também costuma ser mencionada por Bergoglio, um Papa habitualmente com grande senso de humor: “O religioso deve ser uma pessoa amável, serena e entusiasta, uma pessoa alegre que transmite alegria. Como faz bem uma boa dose de humor”.
O Papa encerra seu diagnóstico sobre os males da Cúria – ainda que não somente da Cúria – advertindo sobre a “doença do acúmulo de bens materiais” – número 13 –, “a doença dos círculos fechados” – 14 – e, finalmente, a do “aproveitamento mundano, dos exibicionistas”, a daqueles que “transformam seu serviço em poder, e seu poder em mercadoria para obter ganhos mundanos ou ainda mais poder”.
Não deixa de ser significativo que, além de ler a cartilha para a Cúria, o papa Francisco quis também reunir-se com os trabalhadores do Vaticano. Com eles utilizou um tom e uma mensagem muito diferente: “Quero pedir-lhes perdão por meus erros e os dos meus colaboradores e também por alguns escândalos que causaram tanto dano: Me perdoem!”.

Papa Francisco: “As doenças da cúria causaram dor e feridas”

Bergoglio diz que as reformas da Igreja continuarão e cria um “catálogo de virtudes”


Por Pablo Ordaz, 22/12/15

Exatamente um ano atrás, o papa Francisco aproveitou o tradicional encontro natalino com a cúria romana para alertar os principais membros da Igreja católica sobre as 15 doenças que afetam a saúde do Vaticano, dentre as quais destacou “o mundanismo, o exibicionismo e a vanglória”. Um Natal depois, novamente reunido com a cúria, Jorge Mario Bergoglio constatou: “Algumas daquelas doenças se manifestaram causando não pouca dor e ferindo muitas almas”. O Papa afirmou que, apesar de todas as resistências, “as reformas da Igreja continuarão a ser feitas com determinação”.
Mesmo gripado e visivelmente cansado, o Papa leu para os bispos e cardeais um discurso de seis folhas — escritas inteiramente por ele — no qual incluiu um “catálogo das virtudes necessárias” para “quem trabalha na cúria”. Em princípio, não é um catálogo tão severo como o de um ano atrás — impagáveis as expressões dos príncipes da Igreja diante dos raios X de Bergoglio —, mas também não deixou por menos. Quando, por exemplo, o Papa fala da sobriedade — “a capacidade de renunciar ao supérfluo e de resistir à lógica consumista dominante” —, a transmissão da televisão do Vaticano mostrou o cardeal Tarcisio Bertone, o secretário de Estado anterior, o mesmo que utilizou 200.000 euros (877.000 reais) dos fundos destinados a um hospital infantil para reformar seu luxuoso apartamento. Nos últimos dias, o cardeal Bertone devolveu 150.000 euros (658.000 reais), o que não deixa de chamar a atenção sobre sua capacidade de economizar.
Mesmo sem citar explicitamente o escândalo pelo vazamento de documentação secreta — o chamado caso Vatileaks2 que causou a prisão de um padre espanhol —, o papa Francisco o ligou em seu discurso às doenças citadas e disse que elas não o farão desistir de sua determinação em mudar a Igreja. Ainda que em tom mais brando e até mais positivo — enumerar as virtudes necessárias ao invés das doenças a se combater —, a fala de Bergoglio não tem nada de condescendente. O Papa alerta: “O honesto nunca manipula as pessoas e as coisas que são de sua responsabilidade. A honestidade é a base sobre a qual estão todas as outras qualidades”.
Francisco pede exemplaridade para “evitar os escândalos que ferem as almas e ameaçam a credibilidade” da Igreja Católica e voltou a utilizar palavras muito duras aos sacerdotes que, esquecendo-se de sua missão, causam escândalo com suas ações: “Como disse Cristo, quem escandalizar um só dos pequenos que em mim acreditam, merece ter uma pedra de moinho atada ao pescoço e ser lançado ao fundo do mar”.

Apenas três dias depois de enumerar as virtudes necessárias na cúria e classificar como doenças "o mundanismo, o exibicionismo e o orgulho", o papa Francisco pediu que os fiéis adotem "um comportamento sóbrio, simples, equilibrado e linear", durante sua homilia na Missa do Galo, realizada na Basílica de São Pedro, na véspera de Natal.
Bergoglio fez referência a uma sociedade que está "embriagada de consumo e de prazeres, de abundância e de luxo, de aparência e de narcisismo" e, diante disso, recomendou a simplicidade e a sobriedade para "viver o que é importante".
Aos fiéis que compareceram à missa na Praça de São Pedro, decorada com uma árvore de Natal de 25 metros e um portal de Belém, Francisco pediu que os católicos renunciem às riquezas do mundo.
Diante da representação do Menino Jesus, disse: "Esse Menino nos ensina o que é verdadeiramente importante em nossa vida. Nasce na pobreza no mundo, porque não há lugar na estalagem para Ele e sua família... Encontra abrigo e amparo em um estábulo e deita-se numa manjedoura para animais. E, no entanto, desse nada brota a luz da glória de Deus".
Também enfatizou virtudes como a bondade, a misericórdia e o amor para viver uma vida "sóbria, reta e piedosa", e pediu o esquecimento dos medos e temores, porque na noite de Natal comemora-se o nascimento de Jesus.
"Agora é preciso cessar o medo e o temor, porque a luz nos mostra o caminho até Belém. Não podemos ficar indefesos. Não é correto ficar parados." Ao contrário, pediu para que os fiéis caminhem e vejam "nosso Salvador deitado na manjedoura", disse o pontífice em sua terceira Missa do Galo.
Uma noite que, para o Papa, é "motivo de júbilo e alegria", um júbilo que recomenda seja compartilhado e que levará, segundo ele, a uma sociedade na qual exista paz entre as nações.
"Nesta noite brilha uma grande luz. Sobre nós resplandece a luz do nascimento de Jesus", disse, uma luz que, para o máximo representante da Igreja Católica, "vem iluminar nossa existência, confinada muitas vezes sob a sombra do pecado".

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